História: Antes de Cristo / Depois de Cristo
Há uma piada muito antiga no campo da História. Dois jovens plantavam trigo nas plantações da Babilônia. Um deles pergunta ao outro "Em que ano estamos" e o outro responde "1500 antes de Cristo". Então o primeiro rapaz pergunta “Mas quem é Cristo?” e o segundo responde “como eu vou saber?”.
Bom, você viu que humor não é o forte da História, mas o conceito é interessantíssimo, por que nós tendemos a achar que as coisas que são hoje sempre foram assim, desde que o mundo é mundo, as coisas são como são. Pois é, esse formato de contagem de tempo é relativamente jovem.
Na verdade, esse formato é extremamente jovem e local. Apenas a chamada cultura ocidental a utiliza dessa forma, uma metodologia que vinha da tradição católica, por exemplo, de escrever cartas onde no cabeçalho a data era posta da seguinte forma: “Dia vinte e seis de janeiro, ano de nosso Senhor Jesus cristo, de 1656”. Agora imagine que a cultura católica passou a existir séculos depois da morte do próprio cristo (na ciência conhecido apenas como um ser mitológico em certo ponto) e que esse tipo de datação só é usado por uma cultura que passou pelo catolicismo, que é uma das religiões que sobrevivem até hoje.
Pois é, existem várias outras formas, o próprio calendários dos judeus, que não considera a crucificação como um marco de tempo, está atualmente no ano 5781, possivelmente da criação do mundo. O Islã considera o ano atual como 1442 a partir da criação da religião, e dos eventos em torno do profeta Mohammed.
E como é que nós marcávamos o tempo antes da Igreja Católica? A verdade é que nem sempre o ser humano teve o interesse em registrar antigas, em organizar fatos passados há muitos anos. É quando esse interesse passa a existir, que o cálculo dos anos a longo prazo começa a existir.
No início, o tempo servia para uma coisa apenas, para calcular os ciclos do plantio. O tempo é antes de tudo, agrário, serve para contar as estações, o tempo desde o plantio e a colheita, que dependendo do que está sendo plantado, pode mais de dois ou três anos para uma mesma safra.
Como você viu no texto sobre a Pré-história, a civilização nem sempre se preocupou em registrar o passado ou o presente para utilização no futuro, talvez até por que a ideia de passado e futuro não fossem claras ou existentes na mente das pessoas, mas conforme os reinos se desenvolvem, e é preciso defender a identidade de uma população, para que ela se relacione ou até domine as outras, passa a ser necessário registrar os ventos conhecidos, que contam a origem de um povo. No início sem escrita, passado de pai para filho em forma de música decorada, o que não tinha um registro de tempo confiável, e causava de não se saber quanto tempo havia se passado desde o evento contato. As proporções épicas da história ia transformando os heróis em deuses, e por aí vai.
Posteriormente, passavam a se contar os anos para eternizar a glória do reino, ou dos reis. Então marcava se a data da seguinte forma “Dia 26 de janeiro, do ano de número 46 do reino de Gilgamesh, rei de Ur”. E aí, como apoio, você registra uma lista de reis em ordem cronológica, cada um com o número de anos daquele reinado. Os reis registravam a história ao próprio favor, então não era nada espetacularmente preciso, mas já era um progresso.
Felizmente hoje existe um setor específico da História apenas para filtrar toda essa bagunça, e pegar um evento registrado no ano 46 do reinado de Guilgamesh, e fazer o cálculo para dentro do calendário católico, e transformar em, digamos 3000 a.C.
Para você ver, por mais que nós detestemos admitir, nem mesmo a História seria a História sem um pouco de matemática.
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