História: Como as cidades-Estado se tornam reinos
Sim, no final da nossa última conversa sobre o nascimento das primeiras civilizações, você viu que o ser humano estava se multiplicando como nunca antes, agora com condições de vida que nenhum outro animal tinha, sem um predador natural que controlasse a sua superlotação. Alimentar toda aquela gente era extremamente difícil, e como não era possível acelerar o plantio e a colheita, era necessário, então possuir e trabalhar mais terras.
Ao longo de toda a história, a vida do ser humano é predominantemente agrária, esse é um dos motivos pelo qual a posse de terras sempre foi o objetivo da maioria das guerras, e até hoje isso está impregnado na nossa cultura. Quando um rei, ou no caso das primeiras cidades, um deus-rei tem mais pessoas do que é possível alimentar, ele tem de buscar soluções mais diretas e rápidas possíveis, e a aquisição de mais território a ser plantado era a melhor solução.
Por duas razões.
Primeiro, é óbvio, por que mais terras produzem mais alimento em menos tempo. Toda a terra precisa ser usada para plantio em tempo controlado, por que plantio extrai nutrientes da terra. Se você planta de mais sem dar descanso a terra, ela pode se tornar estéril.
Segundo, cidades superlotadas geram todo o tipo de problemas, desemprego, criminalidade, fome, a população raivosa fica concentrada de forma a ser maioria sobre os soldados, essas coisas. Obter mais terras libera mais espaço para trabalhadores, o que diminui a concentração nos centros urbanos, e alivia essa tensão.
O problema é que, quanto mais distantes as terras estão, mais caro e demorado é trazer todos os produtos produzidos para a cidade, mais difícil é a administração da força de trabalho, e mais difícil é fazer a redistribuição de todo o bem produzido para toda aquela população, que agora com mais espaço, e alimentação proveniente das novas terras, crescia ainda mais rapidamente.
Qual a solução? Criar colônias. Uma pequena unidade meramente administrativa em uma terra bem mais distante, que serviria como uma miniatura da cidade-Estado. Um governador é colocado ali, sob ordens específicas do deus-rei, para organizar a força de trabalho das terras próximas, alimentar e manter a ordem entre eles, depois fechar um barco contendo todo o carregamento da produção daquela colônia e enviar para a cidade-Estado, já tendo separado a quantidade necessária para alimentar os trabalhadores locais.
Ideia maravilha de início. Com todas as outras, facilita a vida, e melhora o crescimento do pais, exigindo outras melhorias e gerando mais problemas. Uma cidade estado agora tinha de gerenciar as próprias terras, e todas as outras províncias, cuja produção crescia grandemente. As populações das colônias cresciam, e passavam a ter as mesmas necessidades das que moravam no estado. Agora era necessário mandar sacerdotes para as colônias, tropas, as vezes.
O mais importante, antes, todo o comércio ocorria entre os governos das cidades-Estado, em forma de importações. Agora, pessoas não ligadas ao governo poderiam levar produtos que só haviam na cidade estado, para vender nas colônias. O comércio podia crescer sem sair de dentro das fronteiras políticas, e o governante tinha de fazer feiras para regularizar o comércio e poder cobrar impostos. E onde quer que houvesse dinheiro e trabalho, havia concentração de pessoas. Assim, aos poucos, as colônias iam funcionando com a mesma lógica da cidade-Estado a que era subordinada. Se tornava ela mesma uma cidade. E a cidade-Estado se tornava apenas a capital de um Estado.
Agora existe outra lógica naquela civilização. O deus-rei não pode mais ser todo poderoso, por que ele não saber tudo o que ocorre em todas as partes do país, ele depende dos governadores das novas cidades para informar o que ocorre. O poder dele deixa de ser incontestável, passa a se tornar cada vez mais dependente de outros poderes locais distantes, que agora tem, cada um, suas próprias tropas.
É nesse momento que os poderes do mundo passam a se decentralizar, e o deus-rei passa a ser um rei. Essa descentralização ocorre com muito, muito tempo. Todos esses eventos levam milênios para se desenvolver. Os registros que temos dessas grandes cidades-Estado são de cerca de 3000 a.C. Ao longo do tempo, muitos desses estados se expandiram e se tornaram impérios, e ainda assim, alguns dos Estados chegaram a se abandonar a monarquia e se tornarem repúblicas. Você já pensou nisso? Uma império que é uma república? Em alguns dos próximos capítulos, vamos tratar de um ótimo exemplo que abrange os dois casos, que é o Império Romano.
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