O Desenvolvimento da Filosofia Analítica
Desenvolvida ao longo do século XX, a filosofia analítica caracteriza-se como, mais do que um amplo campo de atuação, um estilo de fazer filosofia, renovando a metodologia filosófica e inaugurando uma nova forma de conduzir os estudos em todas os seus ramos. A filosofia analítica é dominante em países de língua inglesa e na tradição filosófica ligada a eles, contrastando com o que ficou conhecido como "filosofia continental", baseada majoritariamente em autores europeus de direcionamento existencialista ou fenomenológico. No Brasil a tradição filosófica se divide entre as duas correntes.
Como uma prática filosófica, é caracterizada pela valorização da clareza e precisão argumentativa, utilizando-se da lógica formal, análise conceitual e, em alguns casos, da matemática e ciências naturais. Tem suas raízes no início do século XX, com o movimento conhecido como positivismo lógico e em filósofos como o Prêmio Nobel Bertrand Russell, o pai da lógica moderna Gottlob Frege, o editor da renomada revista Mind e defensor dos conceitos de senso comum George Edward Moore e Ludwig Wittgenstein, autor do ainda hoje influente Tractatus Logico-Philosophicus, de 1921. Muitos aspectos destes primeiros tempos da filosofia analítica foram abandonados ou rejeitados ao longo de seu desenvolvimento, mas foram importantes para seu desenvolvimento.
Entre estes aspectos encontramos especialmente, o princípio positivista-lógico, segundo o qual não existem fatos filosóficos, sendo o objeto da filosofia o esclarecimento lógico do pensamento; a recusa em produzir filosofia a partir de sistemas filosóficos gerais, preferindo investigações mais restritas afirmadas com rigor ou utilizando a linguagem ordinária; e o princípio segundo o qual o esclarecimento do pensamento só poderia ser atingido pela análise da forma lógica das proposições filosóficas.
De acordo com Russell, a filosofia analítica tem mais qualidades da ciência do que da própria filosofia produzida anteriormente, uma vez que, diferente do que aconteceu com os empiristas britânicos, como John Locke, George Berkeley e David Hume, na filosofia analítica incorpora-se a matemática e poderosas técnicas lógicas, chegando-se a resultados definitivos. Isto acontece pois filósofos analíticos atacam os problemas um de cada vez, provando ou refutando hipóteses sobre aspectos específicos do mundo, da linguagem ou da mente humana. O mesmo não acontece com os filósofos que Russell chamou de "construtores de sistemas", aqueles que desenvolveram sistemas complexos para explicar o funcionamento do mundo, estes precisavam construir de uma só vez uma teoria que explicasse todo o universo, caso um único item fosse refutado pelos fatos ou por outra teoria, todo o sistema desmoronaria. O mesmo não acontece com a filosofia analítica, quando uma tese é derrubada ou refutada, a filosofia analítica avança com esta conclusão.
Embora recusando muitos dos elementos iniciais, especialmente aqueles oriundos do positivismo lógico, contemporaneamente, a filosofia analítica desenvolveu-se em um estilo de filosofia muito semelhante ao apresentado por Russell, caracterizando-se pela busca da precisão, clareza e rigor acerca de tópicos específicos, recusando discussões impressivas acerca de tópicos excessivamente abrangentes. Além da lógica formal clássica, a filosofia analítica conta hoje também com a lógica modal, que trata dos casos de modalidades, sendo as principais: possibilidade, necessidade, probabilidade e impossibilidade.
Entre as áreas mais comumente exploradas por filósofos analíticos estão: Filosofia da mente e ciência cognitiva; ética, incluindo questões de meta-ética, ética normativa e ética aplicada; religião; filosofia politica, particularmente questões acerca do libertarianismo, liberalismo e comunitarismo; filosofia da ciência, com sub-áreas para todas as ciências naturais existentes atualmente, bem como para a história da ciência; metafísica, que embora rejeitada no início do século XX, foi retomada por filósofos como David Armstrong e David Lewis, que desenvolveram teorias sofisticadas em diversos tópicos da metafísica, como universais, causalidade, objetos abstratos, necessidade e possibilidade; filosofia da linguagem; epistemologia; e estética.
Referências:
Brand Blanchard, Reason and Analysis (Londres, 1962)
Bertrand Russell, The Philosophy of Logical Atomism (Londres, 1918)
Davidson, Donald. Homem do pântano (Swampman) um experimento de um pensamento filosófico, 1987
D'AGOSTINI, Franca. Analíticos e Continentais. São Leopoldo: UNISINOS, 2002.
Hylton, Peter. Russell, Idealism, and the Emergence of Analytic Philosophy.
Oxford: Oxford University Press, 1990.
Kenny, A.J.P., Wittgenstein, London 1973.
LALANDE, André. Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia. Editora Martins Fontes. 2009.
Malpas, Jeffrey. Donald Davidson and the Mirror of Meaning: Holism, Truth, Interpretation. Cambridge: Cambridge University Press. 1992.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Tratado Lógico-Filosófico e Investigações Filosóficas. 2a ed. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1995.
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