Artes: Pintura de Francisco Goya Cronos devorando seus filhos
Você já viu, com certeza, esse quadro icônico, imagem até muito forte, de um velho gigantesco devorando um homem, com desespero nos olhos. Sempre aparece em jogos ou filmes de terror, e geralmente é assimilado ao medo que temos de ser consumidos pelo tempo, representado pelo titã Cronos.
A história desse quadro, no entanto, é um pouco mais politica do que se imagina.
Francisco Goya, o artista por trás dessa obra tão expressiva, foi pintor oficial da corte do Rei da Espanha, durante os eventos da Revolução Francesa, responsável por pintar retratos da realeza.
Num dado momento da revolução, Napoleão havia instalado um cerco de navios a volta da Inglaterra, para limitar o acesso dos navios mercantes, a fim de enfraquecer o país. Pouco tempo depois, chegou aos ouvidos de Napoleão que os portugueses estavam por furar o cerco, em auxílio dos ingleses.
Napoleão, mais que rapidamente decidiu marchar por território espanhol Portugal (evento que levou a Família Real Portuguesa a ser escoltada por ingleses até o Brasil), e no meio do caminho, decidiu por tomar o castelo do Rei Fernando, aprisiona-lo, e deixar o castelo em poder do exército francês como parte de seu império.
No entanto, o domínio francês não é apenas militar. A Revolução carregava uma ideologia fortíssima, de que o passado nobre não deveria mais significar nada, principalmente poder, e que os homens deveriam ser livres da Monarquia Absolutista para que a população viva melhor.
Durante a estadia das forças francesas, essa ideologia foi absorvida por Goya, foi apreciada, para dizer o mínimo.
Ocorreu que, em uma tentativa de livrar Castela do poder do Usurpador, seus nobres vassalos juntaram-se a alguns lideres coloniais, e trataram de lançar tropas ao castelo de Castela, espantar as tropas francesas, e restituir o trono ao seu rei de direito.
Estando o Rei de volta ao trono, a primeira coisa que precisava fazer era suprimir os ideias revolucionários que poderiam se espalhar pelo reino, que contrariavam os direitos divinos da Coroa e da Igreja Católica. Começou, então, uma investigação por todos os que compactuassem com as ideias da revolução ainda em território espanhol. Goya, no entanto, foi, por assim dizer, perdoado, e colocado em observação.
Dia após dia, Goya se sentia pressionado e vigiado, as vezes ameaçado por um poder que ele considerava devastador e opressivo, e a situação, aos poucos, se tornou tão insuportável, que se mudou para fora de Madri, trancou-se em sua casa, e sozinho, passou a pintar o que sentia, pelas paredes.
Hoje, conhecidas como Black Paintings, você pode encontrar em rápida pesquisa todas as expressões a que deu voz a angustia de Goya, representando o poder opressivo da monarquia.
E Cronos, que tem a ver com tudo isso.
Pois bem! Segundo a mitologia grega, Cronos era o rei de todo o universo, depois de ter tirado do poder, por meios nada ortodoxos, seu pai, Uranos, que dominava a terra também por meios nada ortodoxos.
Foi profetizado a Cronos que assim como fizera a seu pai, seus filhos o matariam um dia, e tomariam dele o poder sobre o mundo. Então para evitar a perda do poder, já inevitável, ele passou a devorar seus filhos, um a um, conforme eram concebidos.
Goya retratou assim o desespero da monarquia, que a seu ver, devorava seus filhos para evitar sua queda iminente. Filhos estes a quem deveria proteger.
Essa é apenas uma das pinturas que Goya produziu, para dar vazão ao desespero. Você pode encontrar todas as outras no Google Imagens ao pesquisar por Goya Black Paintings. Vai sentir na pele o verdadeiro significado no olhar de pânico de Cronos.
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